Perto de abrir suas portas para a edição de número 38, o Salão Internacional de Humor mostra-se mais uma vez polêmico e sedutor. Desde sempre a mostra que nasceu para combater o regime militar teve seus maiores impactos quando fez rir do sério, do absurdo, do inimaginável.
Autores de todo mundo sempre mandaram para cá – pelos correios e agora via internet – o melhor das suas percepções sobre os acontecimentos contemporâneos. Foram os primeiros a desafiar a ditadura militar brasileira, em plenos anos 74, quando a fábula de Hans Christian Andersen, assinada por Laerte Coutinho dizia “o rei estava vestido”, mostrando que apesar de todo o aparato militar do momento, a sociedade civil prestes a se reorganizar politicamente, preferia a liberdade à opressão dos militares. A volta da democracia era um desejo do Brasil e Piracicaba lá estava com sua irreverência para apoiar.
As denúncias mudaram de tom e padrão dali por diante, sempre perseguindo dias melhores para o nosso país. Os ecos das idéias eu aqui se difundiam, ganhavam s paginas dos jornais e dos principais meios de comunicação, para nos inserir como uma cidade com um nível de consciência aprimorado e contestador.
Isso ajudou a formar a marca do Salão ao longo dos anos, mas certamente afastou grupos empreendedores, de diversas naturezas, para o apoiamento indispensável e necessário para o seu crescimento. De outro lado, o marketing do boca a boca – ou quem sabe do letra a letra! – ajudou a dizer o redor do mundo da existência de um lugarejo polêmico, chamado Piracicaba, onde idéias e ideais no plano da multiculturalidade e da diversidade são aceitos e convivem em uma harmonia competitiva.
Quando todos apelidavam as ideias dos partidos “verdes” com o rotulo excêntrico dos “eco chatos”, os Salões de época também denunciaram a mudança do clima, a devastação da Amazônia, geleiras que derretiam e pingüins gelados que encontravam camelos tórridos em meio às neves da imaginação criativa do artista. Depois da derrubada ditadura, talvez a questão do meio ambiente tenha sido a mais premiada, debatida e denunciada pelos últimos Salões.
Também os desníveis sociais, a batalha interminável da critica marxista entre o capital e o trabalho, povoaram mentes e penas de criadores daqui e dacolá, para que a exploração contra os trabalhadores fosse premiada e aplaudida desde sempre. Há um cartum memorável de um artista russo, onde o empregado coloca um casaco no patrão e este, sorrateiramente, mete-lhe a mão no bolso da calça, retirando-lhe o dinheiro furtivamente. Dar com uma mão – pagar salários! – e tirar com a outra – cobrando impostos, por exemplo, é um tema recorrente na vasta história da literatura crítica do nosso Salão.
Mas nem só de sutilezas vivemos. Rimos à toa das boas piadas, aquelas de comunicação rápida e assertiva. Vibramos com as caricaturas atarrachadas de anti-heróis e neoditadores como Hugo Chavez. Assim como nos deslumbramos com apenas dois traços no papel que nos remetiam a Hitler, numa ousadia criativa inimaginável, até chegar , é claro ao nosso Salão.
Há muito ainda a relembrar e recontar. Por enquanto, celebramos apenas a chegada de *3792 trabalhos, de 64 países e 871 autores (2881 via internet e 911 via correios, números ainda não finalizados pela SEMAC). Muitos números... mas que nos remetem a imaginar que ,se não teremos o maior salão de todos os tempos só pelos números, teremos certamente um dos melhores em qualidade. Dia 27 de agosto mostramos tudo para vocês!
Adolpho Queiroz é pós doutor em comunicação pela UFF, professor do Mackenzie/SP e presidente do 38º Salão Internacional de Humor de Piracicaba e um dos fundadores do Salão
*os números atualizados em 03/08 são: 4019 trabalhos, 64 países e 940 artistas
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