PIRACICABA: UM CAUSO DE HUMOR - Camilo Riani
Enviado:
terça-feira, 13 de julho de 2010 |
Postado por
Salão de Humor de Piracicaba
|
Recebemos por email esse texto do Camilo Riani e pedimos autorização dele para postar aqui.
Trata-se da opinião de um artista gráfico - e o mesmo faz questão de lembrar que não tem nenhum vínculo político - que resolveu publicar o seu ponto de vista sobre o assunto.
Caros colegas de traço:
Alguns momentos exigem uma pitada de reflexão, regada a uma boa dose de observação e muita sinceridade. Ultimamente, o nome de um dos maiores espaços do humor gráfico mundial tem surgido em inúmeras manifestações: o Salão Internacional de Piracicaba.
Divergências sobre a forma e a condução de mudanças internas no Centro Nacional de Documentação, Pesquisa e Divulgação do Humor (como a do cargo/função da Zetti para outro setor da secretaria de Ação Cultural) geraram diversas discussões. Cada parte defendendo seus motivos e visões, fato esperado em um cenário que envolva tanta história, bastidores e emoção. Entre traços e pinceladas sutis (talvez nem tanto), uma questão acabou pairando no ar: a classe dos cartunistas deveria, nesse contexto, dar as costas e esvaziar o Salão?
A resposta surge de outra interrogação: a quem se pretende atingir? Se a ideia for o próprio projeto do Salão Internacional de Humor de Piracicaba, então o caminho está definido: que se vá em frente e que rolem as pedras! Como não faz muito sentido acreditar que este seja o real objetivo de profissionais do segmento artístico e cultural, só nos resta olhar com serenidade para certas questões fundamentais.
Primeiramente, todo e qualquer artista tem o direto de agir de acordo com sua convicção pessoal, suas ponderações e responsabilidade por suas escolhas. Diferente disso é imaginar o enfraquecimento do Salão de Piracicaba a partir de uma onda coletiva, em um país com histórica fragilidade de políticas públicas para a cultura e evidente escassez de espaços para grandes e novos talentos. Como imaginar na berlinda um dos raros projetos culturais brasileiros com tal reconhecimento, como se o Salão fosse uma espécie de conquista vitalícia, sem necessidade de atenção constante e fortalecimento contínuo por parte dos cartunistas, sociedade e entidades? Como admitir que se instale um desnecessário clima de desconforto (ou até mesmo desconfiança) entre os próprios artistas, colegas, como se a participação fosse algo questionável?
É preciso reafirmar que o Salão não é propriedade deste ou daquele governante/administrador público, nem deste ou daquele cartunista, entidade, cidadão, funcionário, apoiador ou quem quer que seja. Pelo simples fato do projeto ser exatamente a SOMA de TODAS estas dimensões, em quase quarenta anos de luta e história. Gente que se arriscou (de verdade!) no início, gerações de colaboradores e voluntários, idealizadores, artistas, parceiros, administradores públicos, funcionários dos mais diferentes setores, vereadores e, sem dúvida, a própria população de Piracicaba, que banca os investimentos necessários para a viabilidade desse raro espaço de arte mundial em terras tupiniquins. Queiramos ou não, temos, todos, responsabilidade direta pelo futuro desta conquista!
Independente da postura inicial de cada um de nós (qualquer que tenha sido), a defesa pública do Salão Internacional de Humor de Piracicaba se faz necessária, de modo claro e sereno. Alguns colegas poderão concordar, outros discordar e alguns até bradar, de dedo em riste, indignados com tais percepções.
Que continuem as negociações, discussões e encaminhamentos, mas que não se confunda a natureza e a dimensão de cada componente desse universo. Que se promova a reflexão para uma participação cada vez mais madura dos profissionais do humor gráfico nos rumos do segmento cultural e artístico do país, ampliando debates, publicações, parcerias e tantos outros importantes avanços desejados. Que possamos, a cada edição do Salão (inclusive nesta), reencontrar colegas, discutir e concretizar idéias, ampliar intercâmbios e aprender com cada erro, cada acerto. Afinal de contas, ninguém é de ferro (e quem quer ser pode acabar se enferrujando).
Vida longa à cultura, à arte e ao Humor Gráfico brasileiro.
Vida longa ao Salão Internacional de Humor de Piracicaba.
Camilo Riani
artista gráfico/caricaturista/produtor cultural)
camiloriani@gmail.com
http://camiloriani.blogspot.com
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